Imagem: Revista LER
Vê se há mensagens
no gravador de
chamadas;
rega as
roseiras;
as chaves
estão
na mesa do
telefone;
traz o
meu
caderno de
apontamentos
(o de
folhas
sem linhas, as linhas
distraem-me).
Não digas
nada
a
ninguém,
o tempo,
agora,
é de poucas
palavras,
e de ainda menos
sentido.
Embora eu, pelos
vistos,
não tenha razão de
queixa.
Senhor, permite que algo
permaneça,
alguma palavra ou alguma
lembrança,
que alguma coisa possa ter
sido
de outra
maneira,
não digo a morte, nem a
vida,
mas alguma coisa mais
insubstancial.
Se não para que me deste os
substantivos e os verbos,
o medo e a
esperança,
a urze e o
salgueiro,
os meus heróis e os meus
livros?
Agora o meu
coração
está cheio de
passos
e de vozes falando
baixo,
de nomes
passados
lembrando-me
onde
as minhas palavras não
chegam
nem a minha
vida
Nem provavelmente o Adalat
ou o Nitromint.
Manuel António Pina
- Cuidados Intensivos,
1994
|via Rede Bibliotecas Escolares|
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